domingo, 6 de julho de 2025

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A nossa IA é tamanho único, sirva-se!

Os novos brasileiros que nascerão em 2025 irão nascer num país divido. Segundo o ranking do saneamento deste ano, hoje 32 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e 90 milhões de pessoas não desfrutam de moradias com coleta de esgoto1. Se recursos básicos faltam a uma parte considerável dos 212 milhões de brasileiros, o mesmo acontece com os recursos tecnológicos que hoje são fundamentais para exercer a cidadania por completo. Segundo estudos do Banco Mundial “Em toda a América Latina, a divisão digital não é apenas uma questão tecnológica, mas um reflexo evidente da desigualdade de renda. O Brasil não é exceção. O acesso à internet, uma porta de entrada crucial para a educação, oportunidades de emprego e serviços essenciais, continua a ser distribuído de forma desigual.” 2

Em agosto deste ano, a OIT – Organização Internacional do Trabalho, e o Escritório do Enviado do Secretário-Geral da ONU para a tecnologia publicaram um alerta conjunto afirmando que, sem uma ação internacional, a revolução da IA pode aumentar a diferença entre países de alta e baixa renda3. Ou seja, nós cidadãos brasileiros, as empresas aqui instaladas e os serviços públicos nacionais, poderemos todos sermos alcançados também pelo chamado “AI divide”, ou seja, veremos uma grande divisão entre os países que usam racionalmente a Inteligência Artificial para promover o seu desenvolvimento e o desenvolvimento de sua sociedade e aqueles países que não usam ou nem ao menos têm acesso a IA.

Em abril deste ano, publiquei neste periódico um artigo sobre os riscos de não termos uma IA a estilo do ChatGPT4, ou seja, um grande modelo de linguagem (Large Language Model – LLM), uma IA generativa, que fosse constituída primariamente de textos em português. A prevalência e superioridade das IAs generativas escritas majoritariamente em inglês podem sim afetar a nossa língua, pois estas IAs são tão úteis e capazes quantos os dados que são fornecidos a elas. O que fazer então se estas IAs são alimentadas primariamente com dados estrangeiros escritos na língua inglesa? Como estas IAs podem atender plenamente nossas necessidades como brasileiros? O que sabem sobre a nossa história, nossa cultura, nosso cotidiano, nossa língua? Podemos usar estas IAs como ferramentas nas nossas escolas e nos nossos escritórios?

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